A depressão é uma perturbação do humor que não deve
ser confundida com sentimentos de alguma tristeza (o «estar em baixo» ou
«desmoralizado»), geralmente recativos a acontecimentos da vida, que passam com
o tempo e que, geralmente, não impedem a pessoa de ter uma vida normal.
Na depressão, os sintomas tendem a persistir durante
certo tempo e podem incluir, em arranjos variáveis, os seguintes:
· Sentimentos de tristeza,
vazio e aborrecimento;
·
Sensações de
irritabilidade, tensão ou agitação;
·
Sensações de aflição,
preocupação com tudo, receios infundados, insegurança e medos;
·
Diminuição da energia,
fadiga e lentidão;
·
Perda de interesse e
prazer nas atividades diárias;
·
Perturbação do apetite,
do sono, do desejo sexual e variações significativas do peso;
·
Pessimismo e perda de
esperança;
· Sentimentos de culpa, de
autodesvalorização e ruína, que podem atingir uma dimensão delirante;
·
Alterações da
concentração, memória e raciocínio;
· Sintomas físicos não
devidos a outra doença (ex. dores de cabeça, perturbações digestivas, dor
crónica, mal-estar geral);
·
Ideias de morte e
tentativas de suicídio.
A depressão é considerada hoje em dia, um problema
de saúde importante que afeta pessoas de
todas as idades, levando a sentimentos de tristeza e isolamento social que muitas vezes têm como desfecho o
suicídio. Contudo, é nas idades avançadas que ela atinge os mais elevados
índices de morbilidade e mortalidade, na medida em que assume formas
incaracterísticas, muitas vezes difíceis de diagnosticar e, consequentemente,
de tratar.
A depressão é um estado tão importante como os défices
cognitivos nos adultos mais velhos. Na comunidade, as percentagens de indivíduos
idosos cujos sintomas satisfazem os critérios do diagnóstico de depressão major
e perturbação distímica são baixos, o que pode ser explicado por critérios
tradicionais que não fazem justiça à prevalência dos sintomas nesta população.
Em hospitais, pelo menos 25% dos doentes idosos têm
perturbações de humor e 50% das admissões de idosos em hospitais psiquiátricos
são devidas a situações de depressão. A depressão geriátrica apresenta uma
improbabilidade de remissão espontânea.
A deterioração da saúde, as mudanças físicas, sensoriais
e cognitivas, a “partida” dos filhos, a
morte do cônjuge e dos entes queridos e todas as transições que acompanham a fase da velhice tornam esta população mais
vulnerável a este tipo de patologias.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 30%
a 35% da população idosa nos países industrializados apresentam algum tipo de
distúrbio mental e que um em cada dez idosos sofre de depressão. A maioria sofre
de distúrbios depressivos ou neuróticos tendo uma natureza maioritariamente
psicossocial.
A depressão no idoso apresenta diversas formas de
apresentação clínica com queixas funcionais e sintomas mais específicos:
psicótica, psicogénica, somatogénica, mascarada, endógena, com alteração
cognitiva (pseudodemência depressiva), causada por uma situação geral do foro
médico, no âmbito de uma perturbação bipolar do humor.
A depressão na população idosa, muitas vezes, não é
identificada devido a situações de co-morbilidade em situações médicas com sintomas
semelhantes. Mesmo os próprios idosos são mais propensos a queixar-se de
sintomas físicos e menos da descrição de vivências de disforia e variâncias de
humor.
Para agravar, acrescenta-se o facto de os
funcionamentos deficitários de demência e delirium serem mais prevalentes nesta
população, tornando a distinção entre depressão e demência difícil devido aos
sintomas comuns como distúrbio de sono, anedonia/apatia, queixas de lacunas de
memória.
Tanto entre o sexo feminino como masculino, na
população idosa, as taxas de depressão e outros distúrbios psiquiátricos são
mais altos em pacientes institucionalizados do que em idosos em comunidade.
Um dos principais instrumentos de medida da depressão
é a Geriatric Depression Scale (GDS),
uma escala de autoavaliação criada para colmatar algumas das lacunas de outras escalas, de fácil aplicação, que exige
poucos esforços da pessoa idosa e é livre de
itens somáticos.
A depressão tem sido identificada como uma das
causas do acréscimo de risco de mortalidade nos idosos. Está associada a
condições de comorbidade psiquiátrica, défice cognitivo e deficiência física
nas mulheres, sendo a sua deteção e tratamento imperativas na população idosa
feminina.
Investigações demonstram que as intervenções tradicionais
que incluem medicação antidepressiva, dinâmicas psicológicas cognitivas, breves,
comportamentais, bem como psicoterapias interpessoais são bem-sucedidas no alívio
de sintomas depressivos e tratamento de outros diagnósticos psiquiátricos nos
idosos.