Direitos, Princípios e Valores do Cuidar de Idosos Institucionalizados


Os princípios e valores em que assenta o cuidar do outro em acolhimento residencial têm a sua génese nos direitos fundamentais que devem ser promovidos e garantidos a todos os residentes, famílias, colaboradores, dirigentes, especialistas e todos os restantes com quem a organização se relacione.


De entre os princípios e valores do cuidar relevam especialmente:

Dignidade

A dignidade da pessoa humana pelo simples facto de ser pessoa é fundamento de todos os valores e princípios que constituem substrato dos direitos que lhe são reconhecidos. São de evitar pelos colaboradores da estrutura residencial - e por todos os residentes - expressões que diminuam uma pessoa. Nunca se deve, por exemplo, falar de alguém na sua presença como se ele ou ela não estivesse ali.

Respeito

Quando demonstramos respeito por uma pessoa, estamos a transmitir-lhe apreço por aquilo que é. Significa também que a temos em consideração naquilo que fazemos com ela e para ela. O respeito tem que estar presente em toda a vida quotidiana de uma estrutura residencial. Uma forma importante de respeitar o outro é ter em conta a sua vida passada. O residente não corta laços com o passado ao ingressar na estrutura residencial. Assim, ele deve, por exemplo, poder fazer-se acompanhar dos seus objectos pessoais, recordações e, caso haja condições, mobiliário e animais de estimação.

Individualidade

Cada pessoa tem características biológicas e experiências de vida que definem a sua identidade e a distinguem dos demais. Embora possamos ter muitas características comuns, encontramos diferentes gostos, crenças, opiniões e atitudes mesmo dentro da mesma família.

Quando trabalhamos numa estrutura residencial, reconhecer e respeitar a diferença é uma forma de demonstrar que valorizamos as pessoas com quem nos relacionamos.
Reconhecer a individualidade do residente passa por coisas aparentemente tão comuns como perguntar-lhe como é que quer ser tratado. Pelo nome? Nome e apelido? Título académico? Por “tu” ou por “você”? Ao agir segundo este princípio contribuímos para um relacionamento que preserve a dignidade de todos e de cada pessoa em particular.

Autonomia
O respeito pela individualidade implica, necessariamente, o respeito e a promoção da autonomia do residente. A estrutura residencial não é um local onde a pessoa aguarda pela morte, mas sim a sua casa, onde vive uma fase importante da sua existência.
A direcção e os colaboradores da estrutura residencial devem encorajar o residente a ser responsável por si próprio e a executar ele mesmo todas as tarefas que deseje e de que seja capaz. Ninguém se deve substituir ao residente nessas tarefas sob o argumento de maior funcionalidade ou rapidez. A estrutura residencial deve ter condições que promovam a autonomia e facilitem a mobilidade, nomeadamente a nível do espaço físico e mobiliário, e da humanidade com que se prestam pequenas ajudas, capazes de ajudar a manter o auto-cuidado, a auto-estima e a promover a autonomia.

Capacidade de escolher
É muito importante para o bem estar emocional e físico dos residentes terem oportunidade de fazer escolhas e de tomar decisões. Se assim não for, limita-se a autonomia violando-se, o princípio do respeito pela pessoa do residente e sua autodeterminação.
Devemos encorajar os residentes a decidirem, tanto quanto possível, o que querem comer e quando, o que fazer ao longo do dia, o que querem vestir, a hora a que se querem deitar ou levantar.

Privacidade e intimidade
A consideração pela pessoa implica o respeito pela sua privacidade e intimidade. Correspondem a necessidades profundas de todas as pessoas e não diminuem com a idade. Dai que deve haver a maior preocupação e delicadeza em tudo o que se prende com a privacidade e intimidade das pessoas mais velhas. Merece especial atenção a sua garantia em todas as intervenções que respeitem à higiene íntima, às relações com os outros, à correspondência, às chamadas telefónicas e a todos os problemas e questões pessoais e familiares.

Confidencialidade
O residente tem direito ao respeito pela confidencialidade de todos os elementos da sua vida relativos à sua privacidade e intimidade.
Todos os elementos da estrutura residencial - directores, colaboradores, residentes, familiares ou amigos - devem respeitar essa confidencialidade, não divulgando nunca informações sobre a vida íntima e privada do residente. O cumprimento do dever de confidencialidade é também elemento fundamental nas relações entre todas as pessoas implicadas na intervenção da estrutura residencial.

Igualdade
Ninguém pode ser privilegiado ou prejudicado em função da idade, do seu sexo, religião, orientação sexual, cor da pele, opinião política, situação económica, situação social ou condição de saúde. Todas as pessoas têm as preferências, afinidades, simpatias e antipatias, ou ideias pré-concebidas, mas elas não podem interferir com a prestação de cuidados.
Temos de ter em conta que os nossos preconceitos manifestam-se na atitude que temos em relação aos demais e afectam, inevitavelmente, o nosso desempenho humano e profissional. Há que vencer esses preconceitos e respeitar o princípio da não discriminação.

Participação
Os residentes devem poder participar na vida da estrutura residencial. Deve existir um livro de sugestões e a direcção deve tomar a iniciativa de chamá-los a dar o seu parecer sobre o regulamento interno, nomeadamente através de um conselho de residentes. Decisões que afectem a comunidade residencial não devem ser tomadas, nem implementadas sem serem antes tornadas públicas e explicadas aos residentes, que
devem poder exprimir-se sobre elas e apresentar sugestões. O plano de actividades também deve ser debatido com os residentes, que têm uma palavra a dizer sobre a escolha dos passeios, os destinos de férias e outras actividades.

Todos estes valores e princípios devem ter expressão na concretização dos direitos dos residentes.

Fonte: Manual de Boas Práticas - Um guia para o acolhimento residencial das pessoas mais velhas. Para dirigentes, profissionais, residentes e familiares